O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum em mulheres. Esse é um dado conhecido e não é à toa que existem muitas campanhas de conscientização sobre a doença e a importância dos exames preventivos. Ao longo do tempo, melhorias significativas na detecção e tratamento causaram um aumento na taxa de sobrevivência das pacientes. Porém, existem ainda os efeitos colaterais que precisam ser cuidados. Neste artigo, vamos conversar sobre o impacto do tratamento na musculatura e os benefícios do treinamento de força.

Mulheres que passaram por tratamentos de câncer de mama tendem a desenvolver alterações neuroendócrinas, fisiológicas e psicológicas. Tanto a patologia quanto o tratamento podem desencadear efeitos colaterais que variam de acordo com a gravidade e com a intervenção.

Uma série de problemas comuns está associada ao câncer de mama em mulheres. Entre eles estão os efeitos colaterais do tratamento, como obesidade, distúrbios do sono, efeitos psicológicos e comorbidades. A fadiga é o efeito colateral mais relatado, mesmo após o tratamento. Quando os efeitos da fadiga persistem, as atividades de vida diária ficam mais difíceis, diminuindo a funcionalidade e aumentando a exposição a outras comorbidades associadas ao sedentarismo.

O principal mecanismo que leva à fadiga relacionada ao câncer é a inflamação, podendo também ser influenciada por desregulação psicológica, comportamental, neuroendócrina, imunológica e mitocondrial. O que acontece é que citocinas pró-inflamatórias podem ser liberadas pelo tumor, influenciando o sistema nervoso central, levando à fadiga física e outras alterações comportamentais. Essas alterações podem contribuir para inflamação persistente e sintomas associados à própria fadiga.

O exercício físico é uma estratégia eficaz no tratamento da fadiga relacionada ao câncer, podendo atuar por diversas vias, incluindo a diminuição das citocinas pró-inflamatórias e a partir do estímulo da biogênese da mitocôndria. Por outro lado, a inatividade física contribui para a persistência da fadiga e outros efeitos colaterais, causando um ciclo vicioso de eventos que se complementam. Porém, esse ciclo ruim pode ser interrompido com a prática de exercícios físicos.

Uma das abordagens que tem sido usada para amenizar os efeitos colaterais tardios, reduzir a fadiga e prevenir a perda de tecido muscular esquelético de forma segura e eficaz é o treinamento de força. A prática reduz a fadiga, melhora as funções cardiovasculares e aumenta o tecido muscular esquelético e a síntese proteica, além de melhorar a força muscular, claro, e consequentemente melhorar a função física.

De acordo com o American College of Sports Medicine, a frequência recomendada para os treinos de força é de duas ou três vezes por semana em intensidade moderada, por 6 meses. Pesquisas mostram diminuição da fadiga física em mulheres que realizaram treinamento de força. Além disso, auxilia na regulação do sono, humor e variação do cortisol.

Lembrando que, sim, os exercícios trazem benefícios, mas é importante que a paciente em tratamento oncológico procure sempre profissionais especializados nessa área para acompanhar o seu caso e indicar a melhor abordagem.


Dr. José Carlos Barbi – CRM 32705

Referência: https://www.scielo.br/j/rbcdh/a/cDKbQKp9r5vLHwq3S5M8xtv/?lang=en